No nosso artigo anterior, exploramos as oportunidades que a esfera dos mercados financeiros proporciona para as empresas de telecomunicações. Dada a multiplicidade de vias para adentrar o campo do banco digital, neste texto, iremos examinar os diversos papéis que uma empresa de telecomunicações pode assumir e destacar exemplos de corporações bem-sucedidas e seus respectivos modelos de negócios.
As carteiras eletrônicas ou digitais (e-wallets) são aplicativos financeiros que funcionam em qualquer dispositivo conectado, armazenando de maneira segura informações de pagamento e senhas na nuvem. As carteiras digitais móveis constituem um subconjunto das carteiras eletrônicas, sendo predominantemente utilizadas em telefones celulares.
As carteiras eletrônicas, e em especial as carteiras digitais móveis, são um ponto de entrada natural para as empresas de telecomunicações. Sua robusta infraestrutura de rede móvel, competência tecnológica, vasta base de clientes e ampla rede de agentes possibilitam que as empresas de telecomunicações facilitem pagamentos e transferências através de celulares em regiões com infraestrutura bancária tradicional limitada ou inexistente.
Um exemplo disso foi o Quênia em 2007, onde a Vodafone e a Safaricom lançaram o M-PESA, um serviço baseado em telefonia móvel para transferências de dinheiro, pagamentos e microfinanças, revolucionando a maneira como as pessoas enviavam dinheiro, quitavam contas e acessavam outros serviços financeiros.
O crescimento do M-PESA na África e para além do continente, permitiu que o serviço expandisse seu portfólio muito mais do que a facilitação de pagamentos tradicionais. Exemplos incluem:
Não se limitando apenas à facilitação de pagamentos, diversas empresas de telecomunicações identificaram oportunidades de crescimento ao focar em segmentos específicos dentro de sua base de clientes já existente. Este método capacita as empresas a identificar e preencher as lacunas no mercado de serviços financeiros, oferecendo soluções personalizadas para seus clientes.
Um bom exemplo disso é a Celcom, da Malásia, que lançou planos de microsseguros impulsionados por inteligência artificial direcionados a segmentos carentes, como famílias de baixa renda e pequenas empresas. Esses planos são acessíveis e podem ser adquiridos por meio do aplicativo móvel da Celcom, tornando conveniente para os clientes comprar o seguro.
Focar em segmentos nichados permite que as empresas de telecomunicações se destaquem da concorrência, apresentando soluções inovadoras adaptadas às necessidades específicas dos clientes. Desta forma, elas ampliam a oferta de serviços financeiros, fortalecem a infraestrutura digital e expandem a base de clientes.
Os bancos digitais (neobanks) são empresas de fintech que atuam exclusivamente no meio online. Eles disponibilizam serviços financeiros como contas correntes e de poupança, pagamentos e transferências de dinheiro, geralmente acessíveis por meio de aplicativos móveis e plataformas web. Devido ao menor custo operacional comparado aos bancos físicos tradicionais, os bancos digitais podem oferecer tarifas mais baixas e taxas competitivas, sendo, por vezes, chamados de "bancos desafiadores".
Os bancos digitais de telecomunicações focam especialmente na nova geração de clientes de smartphones, disponibilizando pacotes agregados e descontos em seus planos móveis e em outras áreas.
Um dos melhores exemplos de um banco digital de uma empresa de telecomunicações é o Orange Bank. Em 2017, a empresa francesa Orange adquiriu 65% da companhia de seguros Groupama e usou sua licença para transformar a empresa no Orange Bank. Como um banco totalmente digital, o Orange Bank oferece uma gama de serviços bancários, como contas de poupança, soluções de pagamento, empréstimos pessoais e seguros, todos acessíveis por meio de um aplicativo móvel ou website. A inovação nas ofertas e as baixas taxas fizeram do Orange Bank um sucesso entre os clientes. Em 2022, o Orange Bank contava com mais de 2 milhões de clientes e adquiriu uma participação adicional de 21,7% no banco da Groupama para consolidar ainda mais sua posição.
Esperamos que este panorama sobre como as empresas de telecomunicações crescem por meio e dentro do setor bancário digital tenha sido útil. Fique atento, pois nosso próximo artigo abordará os prós e contras de comprar, adquirir e desenvolver as competências financeiras e a expertise necessárias para as empresas de telecomunicações prosperarem.